segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Portugal, um país a sonhar com a aposentação?

O sítio The new american dream (um dos meus blogues aqui do lado) é, claro, um dos lugares que visito periodicamente com muito gosto. No melhor do espírito americano propõe-nos a redefinição do american dream centrado agora numa vida de qualidade. Assenta em em diferentes propostas concretas, projetos em curso e ideias inpiradoras.

A leitura que fiz de um único folgo da série de histórias de pessoas que estão a viver o sonho americano requalificado, mesmo tendo já eu lido imensas ao longo dos últimos tempos, fez-me repensar seriamente os meus projetos, planos e metas.

Até há cerca de cerca de quatro anos atrás, o meu trabalho era muito próximo de um trabalho de sonho, na medida em que me realizava todos os dias. Mesmo quando estava mais abatida, em geral com os problemas de saúde da minha família, não me lembro de dias em que não sentisse que estar ali fazia de alguma forma a diferença na vida de muitas pessoas, e que tal implicava também o meu próprio crescimento interior.

Trabalhei sempre muito porque fazê-lo era um desafio gratificante e aprazível, às vezes um deslumbramento.

Contudo, a crise e a subsequente política de austeridade que os mercados e a Europa nos impuseram traduziram-se num imenso desinvestimento na cultura, na saúde, no ensino, no trabalho e todos disso nos ressentimos brutalmente como nunca antes.

Grandes cortes nos vencimentos, aumento do número de horas de trabalho semanal, diminuição do número de dias de férias e dos dias feriados. A ameaça, velada, real e muito presente, dos trabalhadores serem enviados para a «mobilidade»: um regime de desemprego transitório em que se ganha progressivamente menos até uma eventual recolocação ou uma desvinculação da contratação de trabalho. Dado que a legislação obrigou as prestações mensais da aposentação a descer sem fim seguro à vista, enquanto a idade da reforma não parava de subir, muitos, demasiados, optaram por reformas antecipadas, com prejuízo das respetivas prestações mensais e independentemente do número de anos de trabalho contributivo.

Esta situação, agravada pelo bloqueio da entrada no mercado de trabalho em geral, e na administração pública em particular, aos mais jovens, conduziu-nos coletivamente a uma situação emocional intensa e dolorosamente vivida em Portugal: envelhecidas, desmotivadas, muitas vezes mesmo seriamente deprimidas, a função pública em geral e uma significativa percentagem da população trabalhadora passaram a «sonhar com a reforma».


Portugal: Abel Pereira, 2009
Eu... não aceito. Recuso-me.

Já me chamaram utópica, «desligada» e desconhecedora da realidade dos factos, pessoa de demasiadas «ideias inexequíveis», em troca de muitas discussões duras e difíceis, sobre o que podemos e não podemos fazer, o que devemos e não devemos fazer... Contudo, eu não me resigno a viver os próximos sete anos da minha vida a «sonhar com a aposentação». Tenciono pois pensar, e, subsequentemente, levar a cabo os meus projetos, com planos e metas a cumprir.

Disseram-me que os orientais, sempre mais sábios do que nós, afirmam que os primeiros vinte anos de vida são para nos tornarmos adultos, os segundos são para nos formarmos profissionalmente, os terceiros são para nos especializarmos e os quartos, para nos dedicarmos a nós próprios e à comunidade em que vivemos.

É pois o que tenciono fazer nos próximos 10 anos de vida. De forma planeada e consistente. Todos os dias, de agora em diante.


 O Buda que ri, também conhecido como o Buda da riqueza e da sorte, que me foi oferecido de presente este Natal. Não poderia ser mais apropriado.

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