quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dia 32: Ida e volta a uma cidade feliz, Cádiz!

Uma das mais típicas fotografias de Cádiz.

Fui passar quatro dias a Cádiz, uma cidade feliz do sul de Espanha. O meu muito querido sobrinho «adoptivo» vive lá e nasceu-«nos» mais uma menina na familia. Sou madrinha do irmão mais velho, que ainda não tem 3 anos e amiga quase-irmã da avó. Assim, sempre que posso, encontramo-nos em Cádiz.

Devo dizer que o meu afilhadinho é o melhor exemplo que conheço de um niño feliz, tanto quanto a sua família verdadeiramente o é! Existe muita alegria naquela casa, muita música, muitas brincadeiras... O meu sobrinho tem o dom de saber instalar a alegria em qualquer momento e de brincar, seja com as crianças, seja com os cães (atualmente têm apenas um, muito velhinho e cego), seja com quem for, sendo que é um jovem psicólogo extremamente inteligente e um vigoroso adepto do minimalismo! A mãe, uma jovem economista, tem o dom da tranquilidade e é uma das pessoas que conheço mais easy to live with.


Família feliz (colar made in Brasil)

Se juntarmos a esta famíla feliz que tanto me quer e de quem tanto gosto, o facto de poder estar uns dias com a minha melhor amiga, como posso eu não desejar estar com eles? 

Para tornar a proposta ainda mais aliciante, o meu sobrinho afirma que Cádiz é mesmo uma cidade feliz. Grande porto marítimo, o mar está muito presente na vida quotidiana, tanto quanto a luz branca do sul de Europa e a temperatura em geral amena, e tudo junto parece ser o que chama as pessoas para a rua:  muitas crianças com os seus pais ou os seus avós, muitos cães com os seus donos, muitos jovens e muitos mais velhos (elas sempre muito bem arranjadas), estão nos jardins, nas praças, nos cafés, nas esplanadas... As pessoas conversam muito, discutem acaloradamente todos os assuntos, riem e manifestam espontaneamente a sua afetividade. Cádiz é uma cidade viva e esta vida é feita de muita luz, de cheiro a maresia e de gente feliz.

Por último, Cádiz é, como diversas outras cidades de Espanha, uma cidade cosmopolita, onde a cidadania é incentivada e discutida, e a consciência ecológica se está a desenvolver aceleramente: por exemplo, todos os sábados, pela manhã, junta-se um grupo informal de pessoas que percorrem as ruas da cidade de bicicleta. O som das suas campainhas tilintantes recorda-nos que as bicicletas são o transporte citadino ideal, uma boa forma de exercício físico e ainda nos dão alegria de viver.


Cádiz: perspetiva americana em Brookiebabble; perspetiva brasileira em Fuxicos de viagens.

Se não vou mais a Cádiz (e já faltei umas duas ou três vezes a este meu compromisso pessoal) e sempre por um pequeno período de apenas quatro dias, é porque a minha vida aqui exige a minha presença constante. É uma questão pessoal e familiar muito complexa que ando a tentar resolver há muito tempo, mas cuja difícil solução não depende apenas de mim. Esta questão é também uma das razões que me faz sentir permanentemente cansada. Cansada de um cansaço que sei que em grande medida é de origem psicológica. 

Por outro lado, Cádiz dista 600 kms de Lisboa. Sem possibilidade de ir nem de avião (que não há sem passar, pasme-se, por Madrid, o que significaria um vôo de 1200 Kms com escala de várias horas na capital espanhola a um preço exorbitante), nem de comboio (que pára justamente na fronteira sul de Portugal, em Vila Real de Santo António!), a opção é pois entre ir de carro ou de autocarro! Como estou demasiado cansada para conduzir tantos quilómetros em tão pouco tempo, fui como de outras vezes de autocarro!

Google maps.

A viagem de Lisboa a Sevilha dura 7-8 horas com uma paragem de meia hora numa estação de serviço de autoestrada. Em Sevilha, devo aguardar ainda entre uma a duas horas até apanhar outro autocarro para Cádiz, o qual mais de uma hora e meia depois me deixa (enfim!) muito perto da casa do meu sobrinho! Tudo somado são cerca de 10 horas de viagem (ida e volta, 20 horas), o que em quatro dias torna estes meus preciosos encontros familiares muitíssimo pesados. 

O autocarro é razoavelmente bom, mas estar tantas horas sentada numa cadeira pouco ergonómica, mesmo levando a minha almofada cervical (o que aconselho vivamente) torna-se um teste ao exercício da paciência e da boa disposição. Um bom livro ajuda muito e a ligação à Internet que nunca consegui usar ainda mais. Também não mencionei que o autocarro é diario mas a viagem é de noite (entre as 21 horas e as 6 horas da manhã), o que já fiz e só aconselho a quem consiga dormir bem sentado. Entre 5ª. feira e domingo há autocarros de dia que demoram evidentemente... uma grande parte do dia. 

Autocarro expresso carreiras internacionais.

A viagem custa no total 110 € (ca de 289 reais). Mesmo levando um lanche como levei, é impossível não sentir que nos devemos compensar com um sumo de laranja, um café, uma tortilla, um pãozinho fresco! O que, ida e volta facilmente atinge os 20 €, (ca de 53 reais). Esta é pois a minha despesa fixa para ir a Càdiz. 

A esta despesa acrescem as prendas, pedagógicas (livros, pinturas e colagens) para o meu afilhado, e alimentos típicos de Portugal para os meus sobrinhos (enchidos, queijos, pão...) que os adoram. Nos dias em que lá estive comprei e cozinhei pratos portugueses que sei que eles gostam e que também são a minha contribuição para a minha estadia e a minha forma de os ajudar, neste caso, a ultrapassarem a primeira semana após o nascimento de mais um bebé. Ainda não fiz as contas certas, mas penso que no total terei gasto nestas «prendas» ca de 150 € (400 reais). 

Não comprei nada para mim, nem tive tempo nem vontade de o fazer. A excepção (tinha de ser!) foram três livros sobre mudança ecológica, participação comunitária e indústrias culturais que me custaram 47,5 € (125 reais). Mas não apenas estes livros não existem cá e me são pessoal e profissionalmente necessários, como foram a minha forma de contribuir para a livraria alternativa em que os comprei. 

Aberta há 2 anos por uma jovem inteligente e empreendedora, a Livraria- café La Clandestina oferece também a possibilidade de se lanchar muito bem (um excelente café, sumos, bolos, sanduiches... ) e ainda Internet gratuita aos seus clientes. Falámos as duas sobre consciência cívica e participação comunitária e ela afirmou-me que o maior trabalho a fazer é com a população menos instruída e, por conseguinte, mais deslumbrada com o consumo. Ficámos em que o exemplo tem de vir de cima e que valorizar o modo como os nossos avós e bisavós encaravam a vida pode ser uma referência inspiradora.

La Clandestina.

Interior: mais fotos em foursquare.


Estou ainda a recuperar do esforço físico que esta viagem exigiu de mim, tanto mais que trabalhei na vépera de ir e no dia seguinte a chegar, mas estou contente por ter tido força interior para a ter feito. Gastei ca de 350 € (917 reais), o que não é pouco para apenas 4 dias de férias, mas fortaleci laços de amizade e de amor que me são fundamentais e respirei a alegria de viver de uma família e de uma cidade em que essa é a característica mais comum: tão simples quanto isso e, contudo, tantas vezes da ordem do inalcansável! 

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