quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Dia 18: Cheesecake com chuva!

Quando esta semana fui ao supermercado, demorei mais tempo em frente às prateleiras dos laticínios. Não encontrava as natas que queria para uma tarte de aniversário: o meu filho faz hoje 25 anos e tinha decicdido fazer-lhe um cheesecake. Foi assim que ouvi sem querer parte de uma conversa telefónica.

Uma jovem de cerca de trinta anos, elegante e bonita, comentava de frente para as prateleiras dos iogurtes —,  entre a surpresa e a angústia, como tinha sido possível que ela e o marido tivessem chegado àquela situação: se tinham trabalhado tanto e se tinham ganho tanto dinheiro, como é que estavam agora cheios de dívidas? E como é que ele, o marido, se recusava a deixar de andar de carro, se isso implicava uma despesa mensal considerável... Como é que ele não via o que lhes estava a suceder?


Contexto.

Confesso que me senti triste e impressionada. Foi a primeira vez que vi ao vivo uma jovem, aparentemente culta e inteligente, cuja vida se desmoronava perante o problema que todos os dias é retratado à exaustão em todos os meios de comunicação: o assustador endividamento da classe média! Pensava que agora já todos sabíamos como tínhamos chegado a isto, como tinha sido fácil sermos enganados e enganarmo-nos a nós próprios pelo mais do que sedutor apelo ao consumo! Pelo exemplo desta jovem e, pior ainda, do marido, parece que muitos de nós ainda se não deram conta de que somos um país pobre, com uma produtividade baixa e um elevado índice de iliteracia! E que o que ela comentava com estranheza e perturbação era apenas um exemplo da crise gravíssima em que Portugal mergulhou e que não acontece só aos outros. Pelo contrário, atinge milhares e milhares de pessoas como nós.

Na altura tive vontade de falar com ela, de lhe explicar o que se passava e de como ela poderia resolver o problema em que vida dela se enredara. Gostaria de lhe ter podido dizer que não é assim tão difícil, e muito menos impossível, modificar os nossos hábitos de consumo. Que viver bem não é consumir, e ainda pior se é acima das nossas posses. Que, pelo contrário, é extremamente compensador sermos donos e senhores das nossas próprias vidas e que, para tal, basta organizarmo-nos e planearmos o futuro a curto-médio prazo. Que o consumo consciente nos tornamos mais vivos e nos transforma em pessoas melhores e mais sábias. Que aumenta a nossa qualidade de vida!

Entre  a zona dos laticínios e a dos condimentos alimentares, perdi-a de vista. Reencontrei-a depois da caixa registadora. Saiu à minha frente com um pequeno saco de plástico na mão, enquanto um pobre de pedir, a quem eu dera um euro à entrada, me queria ajudar a carregar os meus enormes sacos de compras.

Fiquei a pensar nos dois: a jovem elegante cheia de dívidas e o senhor idoso que vive de pedir. Chove lá fora e chove no meu coração!

2 comentários:

  1. Penso que a resistência das pessoas reside em "baixar" o padrão de vida, mesmo quando isso se faz necessário.

    Estamos por aqui há seis anos sem qualquer reposição salarial e a inflação existe, sim! Então, muita coisa mudou e tento fazer com que meus filhos vejam que as coisas possíveis há algum tempo hoje já não mais representam a nossa realidade. De qualquer forma, não é fácil.

    Beijos e lindo texto! Adorei!

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  2. Querida Ziula: obrigada pela tuas palavras. É verdade, sim, as pessoas recusam-se a ver a realidade! Negam a realidade em que vivem. Acho excelente que prepares os teus filhos para a verdadeira vida, sobretudo porque o teu país está agora em crescimento e longe ainda de um período de crise e de recessão. Há «bens» que são pilares das nossa vidas: a casa, talvez seja o principal bem material. Aí, eles e nós devemos investir a sério e quanto antes melhor. A educação é outro, e isso é o que eles já fazem. Com a saúde, temos o três principais tesouros sobre os quais assenta uma vida boa. Possamos nós passar-lhes este ensinamento... Bjs

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